sábado, 15 de maio de 2010

O MEU LIVRO

RETROCESSO é uma trilogia que começa com o volume NÃO SONHO MAIS COM AS ESTRELAS, a insistência para que eu escrevesse um livro foi dada por dois amigos: Ederson Marques e Bruno Pereira; e foi depois da visita a um sitio que me inspirei para escrevê-lo. Abaixo se encontra a primeira parte:

Não sonho
Com estrelas

Capítulo 1
(Entrevista com a morte)
Parte I

1º. De dezembro de 2007

Anunciava-se na televisão, diante dos olhos ávidos dos telespectadores, durante os intervalos comerciais – seja isso ao meio de telejornais, novelas ou qualquer que seja o programa – as chamadas duma atração conhecida como Divã.

Dizia-se durante o informe, que a morte seria entrevistada naquela noite. Isso punha os espectadores mais próximos do aparelho, segurando mais firme os braços da poltrona, querendo que a mensagem se repetisse. Se os produtores tinham por meta angariar telespectadores, o primeiro alvo já fora alcançado. Quem não tem dentro de si a comichão da curiosidade?

Aquela equipe trazia na boca o gosto do sucesso; e na mente, idéias para mantê-lo sempre líder de audiência, dobrando, como vinha acontecendo, o número de patrocinadores e angariando fundos muito polpudos para a emissora. Esse dinheiro começou vir um pouco mais fácil quando o programa, estando no ar há apenas um ano, leva dum júri, por unanimidade, o Troféu Imprensa na categoria de Melhor Programa de Entrevista de 2006. Pronto, tendo em mãos uns dos maiores prêmios da televisão brasileira, choviam patrocinadores, e por muitas vezes outros patronos eram recusados. O feito impressionava a crítica, que tecia por entre as páginas de jornal comentários que enalteciam as qualidades dos elaboradores e do apresentador.

Por esses dias, no caderno de televisão, um jornalista de grande credibilidade escreveu: A muito a televisão brasileira não via qualidade, imparcialidade e respeito, dentro de atrações televisivas O programa Divã é prova de que pode haver informação e cultura dentro de um veículo popular... E ia-se longe esse texto, quase toda página, muitas e muitas linhas, até que no último parágrafo, dava-se o nome do criador do programa, Osmar Drummond, que também tinha por função apresentar o show: composto quase de um plágio do programa Roda Viva da TV Cultura: o ancora e mais quatro debatedores escrutinavam o entrevistado com qualquer tipo de pergunta, obtendo por resposta, muitas vezes, rugas na testa ou um silêncio quebrado pela curiosidade de outrem.

Genuinamente palco de assuntos que deixava outras emissoras temerosas, Divã trazia a baila, como fez no seu programa de estréia, pondo na arena um médico favorável à eutanásia, assuntos que os amantes da televisão, pagando com sono a menos, paravam para assistir. Houvera há dias, até mesmo um sacerdote partidário da união homossexual, com citações bíblicas da importância do amor sem distinção de sexo ou cor. Aí é que se montou escândalo: jornais diziam da pachorra deslavada com que Osmar apresentava aquilo, trazendo na face uma máscara de sarcasmo e nas mãos o próprio tridente de Satanás, a cutucar de forma escandalosa a Santa Madre Igreja; essa, por sua vez, despejara nas portas da emissora, seus bispos, a apontar os dedos aos produtores e patrocinadores, clamando para que se tirasse do ar aquela anunciação do apocalipse.

Dias foram necessários para que os nervos parassem de latejar, foi-se Osmar descansar nas praias de Ipanema e ouvir, sem ter pedido, jornais tecerem-lhe comentários de apoio: a ditadura e a censura foram-se a muito e podia o homem opinar sobre o que bem entendesse. Não tinha o telespectador o controle-remoto em mãos para mudar de canal? Que o fizesse, então!

E assim, deixando as águas salinas da terra da Bossa Nova, Osmar voltou aos estúdios da emissora, nas terras do interior de seu estado de origem. Formulou mais entrevistas, e não se passou dias no ar sem que houvesse novo escândalo, novas passeatas dos defensores da moral, e picos de audiência; dessa vez tudo se devia as palavras de um especialista em relações sociais: O casamento estava morrendo, o homem tem que se entregar aos deleites da poligamia! Bastou essa citação do “ser” para que se fizesse novo pandemônio.

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Para não descrever fisionomia, é só olhar a fotografia. O que eu gosto mesmo é livro, o deleite da ficção, o caminhar tranqüilo por histórias de outros, ou aquele navegar mais conturbado pelos volumes de Filosofia; aperto por muitas vezes as mãos de Platão, discordo de Sócrates, aplaudo Ruy Barbosa, sendo meus camaradas. Construo o alicerce de minha vida com alfarrábios.